O direito mais importante

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sexta-feira, 12 de março de 2010

Semana de contradições e os direitos fundamentais

Nesta semana que se encerra houve dois fatos contraditórios, mas que expressam com bastante força o quão difícil é a luta pela criação de uma cultura de promoção e defesa dos direitos fundamentais no Brasil. O primeiro evento foi aquele da comemoração do Dia Internacional da Mulher, 8/3, data que representa dia de memória da luta do movimento social de gênero, pela qual a igualdade é buscada na realidade social. No Brasil, lamentavelmente, não poderia deixar de ser comentado o fato de que um jogador de futebol famoso declarou, perguntando, quem não tinha saído ainda na mão com uma mulher, sendo que o time de futebol ao qual ele está vinculado profissionalmente é presidido por uma. A desigualdade de gênero, como "novo" direito, novo ao menos no sentido de escapar da tradicional distinção capital/trabalho, bem pode ser tratada pelo direito antidiscriminação, na sua vertente anti-subordinação, pela qual são reprovados comportamentos aparentemente neutros, mas que produzem, como resultado, discriminação, esta que pode ser qualificada como indireta: ver, para o caso, a ADI n. 1946, julgada pelo STF. Nesse caso, o STF entendeu que a norma que fixava limite máximo de R$1.200,00 para o pagamento do benefício auxílio-gestante pela Previdência Social, respondendo o empregador, sozinho, pelo restante do que perceber a gestante, durante a licença respectiva, poderia produzir o efeito discriminatório representado pela contratação apenas daqueles de sexo masculino, no lugar da mulher trabalhadora, típico caso, então, de discriminação indireta. Um outro evento que marcou a semana no país e no mundo foi a declaração do Presidente da República comparando os dissidentes políticos de Cuba que fazem greve de fome com os, segundo sua própria linguagem, bandidos de São Paulo. Esquecendo-se, ao que parece, de seu próprio passado, o que não é incomum com os governantes brasileiros, de vez que também fez greve de fome, esse tipo de declaração produz consequências nefastas para a sociedade brasileira no que diz com o incremento do tal caldo cultural de que se fala e pertinente à promoção e defesa dos direitos fundamentais. É que o atual Presidente brasileiro possui alto índice de aprovação popular e o que ele fala é ouvido diretamente pelas pessoas que o apóiam e que passam a apoiar o que ele fala, resultando numa compreensão inadequada dos movimentos que lutam pelos direitos fundamentais, que é o caso, por exemplo, dos dissidentes políticos de Cuba. Declarações desse tipo, então, vão contra, mundialmente, a luta pela afirmação histórica dos direitos fundamentais. As perversas consequências desse tipo de declaração ganham em sentido se se pensar em que a própria sociedade brasileira não é lá muito ligada à ideia de defesa dos direitos fundamentais. No campo político tem consequência política, no jurídico seria inconstitucional, se tivesse forma de norma, pois atenta contra o Estado Democrático de Direito. Esses dois fatos demonstram que o respeito pelos direitos fundamentais passa pela construção cotidiana de condições de possibilidade de sua concretização. "Que assim seja. Bem-vinda, oh vida! Eu vou encontrar pela milionésima vez a realidade da experiência e forjar na forja da minha alma a consciência incriada da minha raça": esse o objetivo desta mensagem. Sapere aude! Paulo Thadeu.

2 comentários:

  1. Concordo com seu ponto de vista Paulo, porém não podemos esquecer que a mesma mídia que proporciona a sociedade brasileira o conhecimento dessas informações é quem propicia uma visão limitada e conformada com o governo brasileiro, pois para ela é mais fácil apoiar do que mostrar para a população que não são copas ou olimpíadas de que o Brasil é feito. O governo tem apoio de pessoas que recebem esmolas e se contentam com isso por puro desconhecimento de seus direitos fundamentais, desconhecimento gerado por uma mídia comprada, que infelizmente é a única a quem todos os brasileiros tem acesso! Marielly Marques

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  2. Marielly, eu não chegaria a afirmar que a mídia seria comprada, mas que falta senso crítico, isso falta. Temos, no Brasil, por exemplo, uma mídia de alto nível quando se trata de esportes, mas não temos uma mídia no mesmo nível quando se trata, por exemplo, de analisar a relação entre o direito e a política. É isso. Paulo Thadeu.

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